Não é porque é reciclável que será reciclado

Infelizmente a frase que dá título ao texto é uma verdade aqui no Brasil: “Não é porque é reciclável que será reciclado”.

E sabe o motivo dessa afirmação ser verdadeira no cenário nacional?

Um terço do resíduo doméstico que produzimos, e que poderia ser reciclado, pois é reciclável, ainda continua indo para o aterramento no solo, feito tanto de maneira ‘adequada’ em aterros sanitários, como depositado de maneira indevida em lixões ou aterros controlados. É vergonhoso, mas ainda existem no Brasil, 1493 lixões e 1508 aterros controlados (que são praticamente lixões). Esses dados de 2018, demonstram que ainda estamos enterrando riquezas e recursos e poluindo nossos solos e água com a destinação inadequada dos nossos resíduos.

Muitos são os motivos que contribuem para que essa realidade não mude no Brasil, e ainda podemos analisar essa questão em diversas esferas.

No âmbito governamental, temos problemas pois historicamente nosso saneamento básico ficou sem investimentos e ainda tem investimentos incipientes. As prefeituras municipais que são as principais responsáveis pela coleta e destinação dos resíduos não tem estrutura para gerenciar seus próprios resíduos e muitas ainda não possuem seu Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS) como previsto na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).

O PMGIRS é o primeiro passo para o entendimento da situação do município em relação a produção de resíduos, trazendo seu diagnóstico e levantando possibilidades sobre sua destinação, e dos 5570 municípios existentes no Brasil, 2517 deles ainda não possuem o plano.

No âmbito empresarial outras questões são críticas, como a falta de incentivo para a utilização de materiais reciclados, pois não há um desconto ou imposto diferenciado para isso. Na verdade ocorre a bitributação até a tri tributação, uma vez que foi comercializado aquele material teve tributação, e quando retorna a cadeia produtiva ele é tributado novamente.

Outro ponto é a falta de material reciclável de qualidade disponível para as empresas recicladoras. Atualmente no Brasil dos 5570 municípios somente 1322 declararam ter alguma iniciativa de coleta seletiva, o que representa apenas 23,7% do total das cidades brasileiras.

Foto por Magda Ehlers em Pexels.com

Já no âmbito civil ou do ponto de vista do consumidor, ainda falta muita consciência sobre o consumo e sobre as escolhas e atitudes que realmente reduzam o impacto.

Além disso, a informalidade na cadeia de resíduos e os intermediários que não agregam valor ao material, apenas aumentam seu custo e logística, tornam a reciclagem e a logística reversa inciativas caras e pouco eficientes para serem fomentadas pelas indústrias.

A PNRS prevê a responsabilidade compartilhada pela gestão dos resíduos incluindo o cidadão. Está em nossas mãos fazer boas escolhas e ainda iniciar e finalizar a cadeia de produção de resíduos e depois de retorno destes de maneira virtuosa, ou seja, escolhendo de maneira consciente o que vai consumir e não cometendo exageros.

A ação prioritária que norteia a nossa lei de resíduos é a não geração em primeiro lugar e depois a redução.

Indicadores que mostrem o que deixou de ser gerado ou que foi reduzido no Brasil ainda não existem porém a consciência do consumidor deve ser cada vez maior em relação a sua importância, pois somos peças chaves para uma real mudança.

Com todo o cenário apresentado o que podemos perceber que a questão dos resíduos sólidos e os baixos índices de reciclagem no Brasil, são uma somatória de problemas e gargalos em toda a sua cadeia.

A atuação em conjunto das esferas governamentais, os compromissos dos setores empresariais, os fomentos as cooperativas, o aumento do parque reciclador e sua distribuição mais uniforme pelo país, o investimento em programas de educação ambiental ao cidadão, inclusive a aplicação de taxas e multas sobre o geração de resíduos são caminhos possíveis e que devem ser adotados concomitantemente para que a destinação adequada dos resíduos seja efetiva e que os índices de reciclagem aumentem.

O que precisamos pensar e ter em mente é que não existe apenas um modelo, apenas uma solução e apenas uma ação, diversas são as atitudes que temos que adotar para que consigamos enfrentar esse problema complexo. 

Publicado por Instituto GRÃOS

Empresa de impacto socioambiental, com foco em encontrar alternativas sustentáveis para a gestão dos resíduos sólidos, conectando os elos da cadeia e trazendo informação de qualidade para todos os seus atores, valorizando os resíduos e desviando sua rota do aterramento no solo.

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